É a primeira exposição de Mário Belém totalmente dedicada à ilustração. Anteriormente, as técnicas misturavam-se e as peças resultavam num misto de escultura com ilustração, recortes em madeira e figuras tridimensionais. Foi assim na última exposição do artista, Só há uma verdade: a saída é pelo espelho, há cerca de um ano e meio.
Desta vez, as paredes do Art Room vão estar repletas de desenhos, numa produção em série de ilustrações a preto e branco. São muitas ilustrações, algumas em recortes de folhas sobrepostas, com frases, personagens, histórias e algum humor, como já vem sendo hábito na obra de Mário Belém.
O tema principal, materializado numa peça central (com o título ”Não és tu sou eu, vivo envolto de dúvidas reticentes”), multiplica-se por diferentes mensagens. Há-des-de cá vir é o confronto com a ideia de que a ilustração é uma arte menor. Para quem carrega esse preconceito, o artista tem reservada uma série de insultos (fofinhos). Ironiza-se a questão, mas para o artista ela é séria: não estaremos a perder alguns dos mais virtuosos pintores e ilustradores nacionais para a arte conceptual por causa deste estigma?
“Um alfabeto inteiro das coisas que te chamava na cara se agora aqui estivesses” é uma das extensões do tema central, e que trepa por uma das paredes do Art Room. “Os motivos pelo quais o meu coração está escangalhado de vez”, “Cansas-me a alma (das mais diversas formas)” e “Pastel de nada” são as outras extensões do tema principal da exposição. Os títulos são tão originais quanto as peças. Cada desenho é por sua vez uma catarse do artista: “E a conta da saudade, quem é que paga?”, “Não era amor, era uma armadilha”, “Inspiro com facilidade (mas expiro sempre com receio)”, “O meu cão é incontinente (mas tem muito mais personalidade do que tu)”, “Usei a tua escova de dentes (daquela vez que fiquei lá a dormir)”, “Não costumavas ser assim (É pena, tínhamos uma amizade tão fixe)”, e por aí afora…
É uma exposição para visitar com tempo, porque vale a pena observar a viagem deste artista. Ao longo das duas semanas da exposição, vão estar também disponíveis três serigrafias produzidas em série limitada, assinadas pelo autor.
Isabel Lindim